História da SBPMat – entrevistas com os ex-presidentes da sociedade: Guillermo Solórzano (2001-2003).


Ivan Guillermo Sólorzano-Naranjo presidiu a primeira diretoria da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat), composta também pelos diretores Fernando Lázaro Freire Júnior (PUC-Rio), José Arana Varela (UNESP), Roberto Cerrini Villas Bôas (CETEM), Elisa Maria Baggio Saitovich (CBPF) e Moni Behar (UFRGS).

Essa diretoria fundadora foi instituída durante a Assembleia Geral de Constituição da SBPMat, no dia 26 de junho de 2001 no Auditório do RioDatacentro da PUC-Rio, com mandato até 2003.

Nascido no Equador, Solórzano desenvolveu sua formação e carreira científica em vários lugares do mundo.  Cursou Engenharia Mecânica na Escuela Politécnica Nacional em Quito, Equador, Engenharia Metalúrgica na Université Catholique de Louvain, na Bélgica, e gradou-se pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) no Brasil. Realizou seu mestrado em Engenharia Metalúrgica e de Materiais também na PUC-Rio e doutorou-se em Ciência de Materiais pela McMaster University, no Canadá. Desenvolveu pesquisas de pós-doutorado no Max-Planck Institute – campus Sttutgart, na Alemanha, e foi professor visitante no Institut National Politechnique de Grenoble (França), no Massachusetts Institute of Technology (MIT) e na Stanford University (EUA). É professor no Departamento de Engenharia de Materiais da PUC-Rio.

Liderou, junto com Edgar Zanotto, o processo de criação da SBPMat, foi presidente do Inter American Committee of Societies For Electron Microscopy (CIASEM) e da Sociedade Brasileira de Microscopia e Microanálise (SBMM) e chairman do International Committee da Materials Research Society (MRS). É membro de diversas comissões executivas internacionais como o International Federation of Microscopy Societies ( IFSM), assim como de comitês editoriais de revistas científicas internacionais, como a Materials Characterization (Elsevier) Journal of Materials Science (Springer) e Microscopy and Microanalysis (Cambridge University Press).

Segue uma entrevista com este ex-presidente da SBPMat sobre a atuação da primeira diretoria da nossa sociedade.

1. Relacione as principais ações realizadas durante seu mandato como presidente da SBPMat.

– Realizamos, com sucesso, o congresso inaugural (o I Encontro da SBPMat), assim como o II Encontro da SBPMat no ano subsequente.
– Estabelecemos um formato para o evento anual, baseado nos simpósios e inédito no país, o qual se mantém até agora.
– Registramos oficialmente a SBPMat.
– Filiamos a SBPMat à International Union of Material Research Societies (IUMRS).
– Inauguramos, desde o primeiro encontro, a colaboração com a Materials Research Society (MRS), dos Estados Unidos, e com a E-MRS, da Europa, a qual tem se mantido e fortalecido no tempo.
–  Instituímos a figura de “sócios fundadores” com mais de 350 sócios que receberam os certificados respectivos e iniciamos uma campanha de filiação à SBPMat de membros profissionais e estudantes, atingindo mais 600 sócios regulares no segundo ano. No terceiro Encontro, já sob a presidência do professor Elson Longo, em Foz do Iguaçu, houve uma explosão no número de participantes, com mais de mil pesquisadores e estudantes.
–  Na assembleia da IUMRS, postulamos a SBPMat como instituição anfitrioa para sediar, no Rio de Janeiro, o subsequente International Congress on Advanced Materials (ICAM). O ICAM 2009 se realizou com sucesso no Rio de Janeiro sob a minha coordenação.
– Deixamos dinheiro no caixa da sociedade, uns 80 mil reais.

2. Relacione as principais dificuldades enfrentadas no período na direção da SBPMat.

Foi um desafio levar adiante a consolidação da SBPMat devido a nossa falta de recursos e pequena  infraestrutura;  tinha apenas a minha secretária “part-time” para me ajudar com a comunicação e tarefas administrativas que iam surgindo, e a ajuda dos meus alunos (um deles fez a primeira home page da SBPMat ), mas foi também uma época de muito entusiasmo em que recebi todo o apoio da comunidade brasileira de pesquisadores, muito motivados em cristalizar esta empreitada.  As agencias financiadoras, CNPq, Capes, FAPERJ, FAPESP, reconheceram a importância desta iniciativa e prestaram seu apoio desde o primeiro encontro.  Nada a reclamar, considero um privilegio termos tido esta experiência de fundar uma sociedade científica nacional e interdisciplinar no Brasil…

3. O que gostaria de ter feito, mas ficou pendente?

Uma das coisas que eu propus, mas não saíram do papel, foi a formação de comitês ou comissões executivas de atividades específicas de importância para a consolidação y crescimento da Sociedade: comissão de assuntos acadêmicos;  comissão de relação com o setor industrial; comissão de publicações, comissão de relações internacionais, comissão de prêmios y distinções… Cada comitê ou comissão deveria ter um responsável ou coordenador (chairman) com uma gestão com período de vigência, apresentar relatórios periódicos (geralmente na ocasião do Encontro da SBPMat) etc.

Além disso, como o Brasil é grande, seria necessário ter seções regionais da SBPMat com diretorias devidamente instituídas e regulamentadas pelos estatutos da SBPMat. O papel destas regionais seria basicamente promover os mesmos objetivos gerais da SBPMat, mas em caráter regional e local,  sempre alinhados com as diretrizes da Sociedade  (através da Diretoria e Conselho) e assim contribuindo ao seu fortalecimento com maior impacto na comunidade cientifica e na sociedade Brasileira.

Tudo isto dá agilidade à Sociedade e aumenta a participação dos membros da nossa comunidade. É importante aumentar a participação efetiva dos sócios, particularmente dos jovens. Temos uma boa geração de talentos com vontade participar e deveriam ser convidados a participar da Sociedade.

4. O que você destacaria dos dois encontros da SBPMat organizados e ocorridos durante sua gestão?

– O I Encontro da SBPMat contou com a participação das MRS americana e europeia e da International Union of Materials Societies (IUMRS). Todos os presidentes dessas entidades vieram ao encontro, que teve cerca de 400 participantes, cinco simpósios, presença de autoridades nacionais. Do ponto de vista internacional teve ótima representatividade e visibilidade.

– Instituímos a obrigatoriedade do inglês como idioma oficial nos Encontros da SBPMat. Isto tem atraído a participação de pesquisadores do exterior de maneira crescente.

– Reforçamos o caráter interdisciplinar da Sociedade, refletido nos simpósios, onde cada simpósio deveria ter co-chairs de diferentes setores do conhecimento (isto é, Física, Engenharias, Química etc.), incentivando a presença de colegas do exterior, e um comitê organizador envolvendo cientistas do setor acadêmico, de centros de pesquisa e da indústria. Este modelo vem se mantendo com sucesso.

– Tanto no primeiro como segundo encontros da SBPMat tivemos como co-chairs de simpósios distinguidos cientistas internacionais , como o presidente da MRS (na época, Alex King) e o Presidente da E-MRS (na época, Giovanni Marletta).

5. Gostaria de deixar alguma mensagem para nossos leitores sobre o processo eleitoral da nossa SBPMat? (importância de participar das eleições enquanto eleitores ou candidatos etc.)

–  Considero importante estabelecer e difundir um programa ou processo claro de eleição para presidente da SBPMat  com dois candidatos excelentes com trajetória de participação na SBPMat,  identificados por um search  committee,  em que a comunidade participe efetivamente da escolha, da eleição.  Idem para os diretores.  Não deveríamos ter mais candidato único para presidente, ou chapa única, nem reeleição, pois isso elimina esta participação da comunidade e desmotiva a sua participação na SBPMat.  Vejam o exemplo do MRS onde o mandato é de um ano e sem reeleição.

– Cronograma de eleição que permita conhecer os resultados da eleição do presidente , diretoria e conselho na ocasião do Encontro da SBPMat.  Assim a participação do presidente eleito já nesse encontro deve facilitar a transição com a nova diretoria.


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